Observação nas escolas

          No curso de Pedagogia durante o 3º semestre, o tema foi educação inclusiva com o objetivo de aprofundar os estudos, enriquecendo assim nossos conhecimentos sobre as necessidades educativas especiais. A resolução n° 2/2001 de 11 de setembro elaborada pelo Conselho Nacional de Educação/Câmara da Educação Básica, prevê que todas as crianças com Necessidades Educativas Especiais tem o direito de frequentar o ensino regular na educação básica.
          Como desafio, nos foi proposto conhecer esta resolução na prática, para isto visitamos duas escolas, sendo uma da rede estadual e outra da rede municipal de ensino em Porto Alegre, onde realizamos as seguintes observações.
          No dia 4 de maio do ano de 2010 pela manhã, visitamos uma escola de ensino fundamental da rede estadual no município de Porto Alegre e observamos um turma de 3º ano. Ao chegar na escola fomos recepcionadas pela professora supervisora de orientação escolar, que muito solícita, nos concedeu a entrevista contribuindo assim com a nossa pesquisa.
          Após a entrevista, a supervisora nos acompanhou até a sala do 3º ano, onde apresentou-nos a professora regente, explicando a razão de nossa visita. A professora regente apresentou uma certa resistência à observação alegando que quando é para receber estagiárias, ela nunca é contemplada, portanto não gostaria de ser observada, mas devido a insistência da supervisora, acabou cedendo.
          Entramos na sala, nos apresentamos aos alunos e sentamos ao fundo. A turma é composta de 24 alunos, sendo que neste dia somente 19 estavam presente. Entre os 19, encontravam-se 2 alunos com necessidades educativas especiais, 1 com Síndrome de Klinefelter e 1 com Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade, ambos laudados. Focamos nossa observação nestes 2 alunos no contexto da sala e a partir de agora, denominaremos aluno A-10 anos (Síndrome de Klinefelter) e aluno B-14 anos (Transtorno de Déficit de Atenção/Hiperatividade).
          No aluno A, percebemos percebemos dificuldade na fala, timidez, instrospecção e dificuldade de entendimento tanto da ordem dada, quanto ao conteúdo propriamente dito pois não conseguia ler o que ele própria escrevera. Quando questionado pela professora do porque havia fechado o caderno, respondeu que não dá certo, que não sabia quanto era 7+11. A professora disse a ele para pedir ajuda à colega ao lado, o que não aconteceu.
          No aluno B, observamos que o seu comportamento era extremamente agitado, ansioso, sentava-se no fundo da sala, sozinho, sem material, mexendo os pés e as mãos sem parar, levantava-se a todo momento, dava a volta nele mesmo tornando a sentar e quando a professora perguntou porque ele não estava fazendo a tarefa, respondeu que não sabia fazer, tinha as mãos nervosas e sem saber o porque. Mais tarde, questionamos sobre o seu caderno, ele pegou da mochila, que estava no outro canto da sala, nos mostrou e não conseguimos ler absolutamente nada. Quanto à professora, tentamos conversar informalmente, sobre a situação diária destes 2 alunos em sala, ela respondeu-nos que não podia fazer nada porque o problema é que as outras professoras, tinham passado eles de ano e não se tem nada de diferente a fazer para ajudar esses 2 alunos.
          Aproveitamos a visita à escola para observar as barreiras arquitetônicas e constatamos que não tinha acessibilidade para cadeirantes, uma vez que na frente da escola existe rampa, porém existe também uma grade de ferro, onde dificulta o acesso e também a escadaria que dá acesso ao pátio e algumas salas de aulas e os respectivos banheiros. Quanto à aula de educação física, não pudemos observar porque elas acontecem ao ao livre e estava chovendo naquela manhã.

          Pela tarde, visitamos uma escola de ensino fundamental da rede municipal de Porto Alegre, onde observamos uma turma A-30. A professora nos recebeu, apresentou-nos aos alunos, inclusive dizendo a eles o objetivo da visita. Nesta turma, só tinha um aluno com hiperatividade laudada, mas como ele toma medicação e tem os devidos acompanhamentos, apresenta tranquilidade se for comparado ao seu comportamento em anos anteriores. No entanto, a professora suspeita que existam outros, mas que também está presente a falta de limites inclusive ultrapassando os muros escolares. Quanto a isto, a escola está atenta através da equipe multidisciplinar, laboratórios de aprendizagem, sala de recursos e geralmente este atendimento acontece no turno inverso ao escolar. A professora proporcionava aos alunos a liberdade de interagirem com ela e com o grupo a todo momento, evidenciando a autonomia do grupo no desenvolvimento do trabalho. Nos despedimos dos alunos e da professora.
          Na aula de Educação Física o professor nos recebeu muito bem, mas não nos apresentou aos alunos que vieram e apresentaram-se espontaneamente. A turma era B-11 composta por 20 alunos e faixa etária de 8a10m à 14 anos. Nesta aula pudemos observar com clareza a falta de limites dos alunos prejudicando assim o desenvolvimento da aula planejada pelo professor, pois a todo momento ele tinha que intervir nas brigas e os alunos tendiam a dispersão constantemente, sequer conseguiam ouvir o professor, mas também pudemos observar que a estrutura física, os equipamentos e os recursos para a execução de uma boa aula, estavam presentes, pois a escola possui plena acessibilidade com rampas por toda a escola, banheiros adaptados com barras de apoio, mas continua em processo de adaptação, pois a todo momento são detectadas novas necessidades de adequação.

          Considerando que a escola deve trabalhar com o paradigma da inclusão, o entendimento que a escola deve ter de atendimento ao aluno com necessidades educativas especiais, é adaptar-se a este aluno e não o aluno adaptar-se à escola, porque assim continuaríamos no sistema de integração, como por exemplo as classes especiais.
          As observações por nós realizadas, confirmaram as nossas suspeitas de que ainda há muito a ser feito em relação à educação inclusiva em Porto Alegre, já que não existe nenhuma regulamentação que defina as diretrizes da educação inclusiva no Sistema Municipal de Ensino. Cabe salientar que a inclusão deve ultrapassar os limites da escola, onde toda a sociedade se aproprie da legislação, dos direitos e deveres do cidadão, para que a sociedade se torne mais humana.


O que se busca na educação inclusiva? 

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